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A autocensura da música

Que País É Esse, LP de Legião Urbana onde está Faroeste Caboclo.

Que País É Esse, LP de Legião Urbana onde está Faroeste Caboclo.

IRMÃO ROCHA #1

Gostava bastante de músicas longas no século passado. Ouvir músicas com mais de 10 minutos, como a clássica Stairway to Heaven do Led Zeppelin era comum até nas rádios, que tocavam sem constrangimento Faroeste Caboclo, do Legião Urbana, na programação de fim de tarde.

Hoje em dia pouquíssimos canais no dial ou na net estão dispostos a explorar clássicos ou até músicas novas de 10, 13, 16 minutos ou mais. O que aconteceu? Músicos, compositores e intérpretes perderam o fôlego? Eu acredito numa mudança da preferência.

O ouvinte é que mudou. Deixou a virtuosidade dos longos solos ou músicas de letras gigantes para curtir num show ao vivo, dando preferência no dia-a-dia às músicas um tanto mais curtas. Veja você mesmo: abra suas músicas no computer ou no tocador e cheque qual a média de tempo de todas elas.

Nesse momento em que escrevo tenho 60 músicas no meu tocador e apenas uma quase chega a 8 minutos (Mônica Millet & Momile Feat. Gilberto Gil & Marisa Monte – Life Goods a 7h54min). Tem mais uma de quase oito e duas de sete minutos. A grande maioria é de sons com 4 minutos. Agora mesmo ouço Deixa Eu Dizer, de Cláudia, de 2:48.

É esse tamanho de música que procuro escutar mais, não importa o gênero. Quer dizer que em menos de uma década minha playlist sofreu um corte de pelo menos seis minutos entre os sons mais curtos e longos que ouço hoje.

Provavelmente muitas pessoas que ouvem muita música todos os dias perceberam esse fenômeno. As músicas mais tocadas têm que se enquadrar ao padrão das rádios e o gosto do ouvinte vai constantemente se moldando.

E os artistas, claro, vão adequando sua obra à preferência nacional.

Talvez na próxima década nossos ouvidos vão aceitar somente músicas com 1 minuto. E aposto que cada vez mais o botão do next music será acionado. Paciência pra ouvir um solo de 15 minutos pra quê, não é mesmo?

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ATRAVESSADA IRMÃO ROCHA #2

Eu acredito que a maioria das rádios, antigamente, também não gostava de tocar música de muitos minutos, coisa de 10, 15. Só consigo mesmo lembrar, das nacionais, de Eduardo e Mônica, que nem é tão longa assim, e de Faroeste Caboclo, ambas do Legião. Curioso é que Faroeste Caboclo na verdade é anterior a Eduardo e Mônica, e acho que as rádios de então só toparam para ter mais um hit da Legião, que na época era A banda, nas paradas. Uma espécie de exceção.

(Aproveito para contar uma pequena e estúpida passagem da minha vida: até hoje eu sei Faroeste Caboclo inteira, de cor, do começo ao fim. Porque eu era bem moleque nessa época, e achava a escola, quase todas as aulas, um saco. Então eu descobri que Faroeste tinha 10 minutos, e as minhas aulas duravam 50 minutos. Então eu pensei um dia: pô, é só cantar mentalmente Faroeste Caboclo cinco vezes e cabou a aula. Assim, durante mais de um ano, eu cantei mentalmente Faroeste Caboclo inteirinha umas vinte vezes por dia.)

O curioso é que essa espécie de padronização das músicas em 3 a 4 minutos vem da época do vinil e das fitas K7: músicas grandes eram ruins, porque ocupavam muito espaço no bolachão e no K7, que tinham tamanho, em minutos, bem limitado. Uma música grande tomava o espaço de três ou quatro ‘normais’, e isso comercialmente era ruim. Quando veio o CD essa limitação acabou, pois cabe coisa pacas em um CD, muito mais do que o artista pode gravar, mas mesmo assim a padronização continuou.

Acho que os poucos a quebrar essa regra são os artistas de rap e hip hop, que gravam músicas bem mais longas do que 3 a 4 minutos, ainda que alguns estadunidenses como o Snoop Doggy Dogg já estejam bem encaixadinhos nesse formato: ajuda os clipes para a TV, também. Clipe de 10 ou mais minutos é foda para a emissora.

Talvez agora, com iPods quase ilimitados de múltiplos gigas quase impossíveis de preencher totalmente, os artistas se sintam mais à vontade para estabelecerem novos parâmetros para a duração de suas músicas, seja 1 minuto ou 30 minutos. E viva o MP3!

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Publicado por em 28 abril 2009 em Mídia, Música, Tecnologia, Vida Urbana

 

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